E a grande surpresa: ele fica ao redor de Alfa Centauri, o conjunto estelar mais próximo do Sol.
Diz-se conjunto porque trata-se de um sistema trinário, ou seja, com três estrelas. O planeta, com 1,13 vez a massa da Terra, está orbitando Alfa Centauri B, ligeiramente menor e mais fria do que nossa estrela-mãe.
A má notícia é que esse mundo recém-descoberto não pode abrigar vida. Girando em torno de sua estrela uma vez a cada 3,2 dias (imagine um ano que dura três dias!), ele está muito perto do astro --deve ser um inferno.
Em compensação, o achado coroa uma longa busca por planetas em torno desse sistema próximo, localizado a 4,3 anos-luz de distância.
"É perto o suficiente para que os engenheiros pelo menos comecem a pensar numa forma de mandar uma sonda até lá", diz Eduardo Janot Pacheco, astrônomo do IAG-USP (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP) que trabalha com planetas extrassolares, mas não esteve envolvido na atual pesquisa.
NO LIMITE
O achado foi feito no limite extremo da tecnologia da busca de planetas. O estudo foi encabeçado por Xavier Dumusque, do Observatório de Genebra, e faz parte dos esforços do grupo de Michel Mayor, pesquisador responsável pela descoberta do primeiro mundo extrassolar girando ao redor de uma estrela similar ao Sol, em 1995.
O instrumento capaz de detectar esse planeta é o Harps, instalado em La Silla (Chile), num telescópio de 3,6 metros pertencente ao ESO (Observatório Europeu do Sul).
Trata-se de um dispositivo capaz de analisar a luz de uma estrela e detectar um ligeiro bamboleio gravitacional nela, ocasionado pela presença de planetas por perto. Contudo, para um planeta tão pequeno como o de Alfa Centauri B, foi preciso medir diferenças de velocidade da ordem de 51 cm/s (a velocidade de uma caminhada). O desempenho ideal do Harps vai até 40 cm/s.
Por essa razão, apesar do entusiasmo, os astrônomos estão recebendo a empolgante notícia com um pé atrás.
"É possível, mas não dá para ter certeza de que o planeta está mesmo lá sem fazer uma análise bem detalhada, que consumirá muito tempo", diz Sylvio Ferraz Mello, astrônomo do IAG-USP especialista em dinâmica orbital.
O estudo foi publicado online pela revista científica britânica "Nature", e o mais entusiasmante nele não é tanto o que se viu, mas sim o que não se viu.
"O planeta deve ser muito quente para ter vida tal como a conhecemos", diz Stéphane Udry, um dos co-autores do estudo. "No entanto, esse pode muito bem ser um planeta num sistema de vários."
O que pode significar a existência de um planeta na região habitável de Alfa Centauri. O duro será enxergá-lo com as tecnologias atuais.
De toda forma, a perspectiva está aí: talvez não só não estejamos sós no Universo como os vizinhos mais próximos estejam logo ali, no próximo quarteirão.
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